sexta-feira, 18 de junho de 2010

DEUS VIVE NA ILHA!

“Alguns noticiários políticos e até mesmo policiais envolvendo ex-prefeitos macularam a imagem do Guarujá e chegaram ao auge da vergonha pública. Mas isso, posso lhe garantir, são águas passadas”
Ricardo Joaquim Augusto de Oliveira
em resposta por email ao Diário de São Paulo


Guarujá: uma pérola que virou pedra
Onda de violência, favelização e falta de investimento no turismo são causas da decadência da cidade, segundo especialistas e moradores.
DIÁRIO DE SÃO PAULO
TAHIANE STOCHERO - LUCIANO CAVENAGUI
Sexta-feira, 30 de abril de 2010 - 22:14

Chamada de “a pérola do Atlântico”, a cidade do Guarujá, no litoral Sul de São Paulo, deixou de ser nos últimos anos um balneário tão atrativo. A decadência, segundo especialistas, moradores e comerciantes, é resultado da falta de investimentos na infraestrutura e no turismo, ao alto número de favelas — são 60 — e à criminalidade.

“A favelização no Guarujá, principalmente no distrito de Vicente de Carvalho, contribuiu para o aumento da violência e a degradação da cidade. Esse é um dos motivos para a perda do glamour e da fuga de turistas mais ricos para o litoral Norte”, diz o urbanista do Instituto de Arquitetos do Brasil, Cláudio Abdala.

Nesta semana, os Estados Unidos recomendaram a seus cidadãos que não visitem municípios da Baixada Santista, após 23 homicídios terem sido registrados na região. O estopim foi em Guarujá, quando dez pessoas foram mortas após um PM ser assassinado em Vicente de Carvalho com dez tiros de fuzil.

“Tem que investir mais no turista, para que ele se divirta e fique na cidade. As praias não têm quadras de esporte, ducha de banho, falta iluminação. Eu tenho que tirar a areia do corpo com garrafinha de água”, diz o fiscal da fazenda Fábio Ribeiro, de 63 anos, que na quinta-feira aproveitava a praia de Pitangueiras, no centro de Guarujá.

“A maioria da população não tem emprego fixo, vive do turismo e do porto. Se o governo não investe nos negócios que atraem dinheiro para a cidade, não tem dinheiro circulando e favorece a criminalidade”, diz o comerciante Antonio Rodrigues, de 50. “Na última temporada, houve muita rotatividade de turistas, que passavam pouco tempo aqui. Cinco, dez dias. Tem que cuidar do nosso turismo, se não, não temos vida própria”, acrescenta Rodrigues, para quem “esta bagunça” (a onda de violência) ocorre há muitos anos e deve-se ao aumento de criminosos na periferia da cidade.

Crise imobiliária

Nas imobiliárias do Guarujá, a reclamação é da queda brusca nas vendas — cerca de 70% na última década, segundo estimaram os corretores, apesar do aumento do valor dos imóveis. Na hotelaria, a crise se repete. Segundo Ari Carvalho, gerente do Hotel Ferraretto, na última temporada a demanda caiu 22%, influenciada pela gripe suína e surto de dengue.

“Precisamos construir um centro de convenções para atrair o turismo de negócios também na baixa temporada. A ponte Santos-Guarujá vai propiciar aumento do fluxo de pessoas”, afirma o gerente.

Prefeitura diz que imagem foi prejudicada

A Prefeitura do Guarujá admitiu que a imagem do balneário foi prejudicada nos últimos anos por diversos fatores. “Alguns noticiários políticos e até mesmo policiais envolvendo ex-prefeitos macularam a imagem do Guarujá e chegaram ao auge da vergonha pública. Mas isso, posso lhe garantir, são águas passadas”, afirmou o secretário municipal de Governo, Ricardo Joaquim Augusto de Oliveira, em resposta por e-mail ao DIÁRIO.

Para o comandante da Polícia Militar na região, major José Messina Filho, o Guarujá tem problemas, como a favelização e o desemprego, que influenciam na violência. “Segurança não é só questão de polícia. É um problema social”, afirma o oficial, acrescentando que os crimes registrados nos últimos dias são isolados e ocorreram na periferia, em Vicente de Carvalho.

Guarujá tem 30% dos 308 mil habitantes morando em 60 favelas computadas pela PM.

Ainda segundo o secretário de Governo, “a violência urbana é um problema mundial e não se limita às áreas pobres ou periféricas, como alguns teimam em insistir. Está relacionada ao tráfico e vem vitimando pessoas e gerando sofrimento e transtornos para famílias dos mais diferentes níveis sociais”.

Ainda de acordo com o secretário, a última temporada foi boa. “O Guarujá recebeu um número quase seis vezes maior de visitantes” do que a população fixa, e “o índice de roubos e furtos foi zero”, afirmou.

Autora de um livro sobre a cidade, a jornalista Nazareth Moreaux afirma que o empresariado quer resgatar o Guarujá de antigamente. “Na década de 70, os garçons serviam na orla da praia com luvas. Queremos recuperar esse glamour”, diz a escritora.

‘Aumento de favelas trouxe mais violência’
De acordo com o arquiteto e urbanista Cláudio Abdala, membro do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), a favelização do Guarujá contribuiu para a decadência do balneário nos últimos anos.

"O aumento de favelas, principalmente no distrito de Vicente de Carvalho, contribuiu para o aumento da violência e a degradação da cidade. Esse é um dos motivos para a perda do glamour, que havia antigamente, e da fuga de turistas mais abastados para o litoral Norte", afirmou o especialista.

Segundo Abdala, a Prefeitura deveria montar um processo de reurbanização no distrito, onde vivem dois terços da população. “A situação não chegou a esse ponto por causa de um fator isolado. Melhorar a infraestrutura nas áreas de habitação popular é um incentivo para baixar a criminalidade”, argumentou.

Na avaliação de Ricardo Roman Júnior, presidente do Guarujá Convention & Visitors Bureau, órgão de Turismo do município, o balneário perdeu o glamour por causa do progresso. “Nos últimos anos, houve ascensão do poder aquisitivo da classe média, que passou a comprar casas e apartamentos na cidade. Isso é um fator positivo”, afirmou Júnior. Para ele, o crescimento da criminalidade e das favelas ocorre em todo o Brasil e nas principais pontos turísticos do país. “Não é uma coisa restrita à cidade. Não podemos ser penalizados por isso”, disse o presidente.

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