FARID ROMPE O SILÊNCIO!

FARID ROMPE O SILÊNCIO E CONTA OS BASTIDORES DAS ELEIÇÕES.

JORNALISTA SIMONE QUEIROZ FAZ UMA BELÍSSIMA ENTREVISTA COM O EX-PREFEITO DERROTADO, TEMPORARIAMENTE PELAS SUAS PALAVRAS.

“Prefeita tem mania de perseguição”
SIMONE QUEIRÓS - DA REDAÇÃO

O ex-prefeito Farid Madi (PDT), que perdeu a eleição para a atual prefeita, Maria Antonieta de Brito  PMDB), no último domingo, ainda está confiante de que poderá assumir o cargo. Ele fala isso baseado em ações contra Antonieta. Nessa entrevista, ele admite que a estratégia de endurecer o tom no segundo turno pode não ter sido a mais acertada, faz um balanço sobre o processo eleitoral e fala sobre polêmicas que permearam o cenário político nas últimas semanas.

O sr. acabou tendo menos votos no 2º do que no 1º turno.Como encarou esse resultado e a que atribui isso?
Acho que foi uma série de coisas. Primeiro a abstenção acima do esperado e acho que isso atrapalhou um pouco. A gente teve uma campanha bem simples, não foi uma campanha rica, diferente da nossa adversária. Você vai ver a prestação de contas dela depois e vai ver a minha. Só de doação de empresas que devem IPTU para a Prefeitura foi mais de R$ 1 milhão, isso em agosto e setembro. E uma campanha de difamação em cima de mim o tempo inteiro, falando que eu tinha processos, me chamaram de bandido. Foi uma campanha suja da parte deles e acho que isso atrapalhou um pouco.

A estratégia mais incisiva que teve neste segundo turno pode ter prejudicado?
Acho que não foi a estratégia mais acertada. Nunca deixei de fazer propostas, tanto é que nos debates que a gente teve, aliás eu fui nos dois e ela em um só, ela fugiu de perguntas. Aliás, vou processá-la porque ela disse que eu deixei uma dívida de R$ 1,1 bilhão, que eu fiquei com o dinheiro da Prefeitura,
então vou processá-la.

Quando isso será feito?
O mais rápido possível, estou tratando com meus advogados. Ela mentiu muito, disse que eu deixei dívidas, insinuou que fiquei com dinheiro da Prefeitura. E vou provar na Justiça que isso é mentira.

Quando o sr. saiu da Prefeitura, de quanto foi a dívida deixada?
Quando eu assumi, a Prefeitura tinha uma dívida de R$ 450 milhões. Quando eu saí, era de R$ 340 milhões. 

Esses números não são exatos, são aproximados.
Por que eu paguei precatórios (cobranças judiciais) durante quatro anos. 

Os precatórios foram o grande CALCANHAR-DE-AQUILES?
Da minha administração, sim. Porque até 2008 a gente era obrigado a pagar 10% do que devia. E além disso, tinham os sequestros de receita, então era impossível pagar. Já imaginou a Prefeitura pagar, além dos R$ 40 milhões, mais R$ 40 milhões de sequestros? Dava R$ 80 milhões por ano. Vou te dar um exemplo de precatório. Em 1985 ou 1986, o ex-prefeito Maurici Mariano tornou o Morro do Maluf área verde. Só que tinha um proprietário que construía lá. Ele entrou com pedido de desapropriação indireta da Prefeitura, como se a Administração tivesse desapropriado. Houve briga na Justiça até que em 2000 estourou o precatório, de R$ 80 milhões. Ali é um precatório que a Prefeitura teria que pagar anualmente R$ 8 milhões.

Lembra quantos precatórios surgiram?
Na minha gestão, nenhum. Mas até o mandato do ex-prefeito Maurici surgiram alguns.

Optou em investir esses recursos
em outras áreas?
Mas, mesmo assim, a gente tinha sequestros de R$ 37 milhões, R$ 40 milhões. Só que em 2009 essa lei mudou. Você não era mais obrigado a pagar 10%, e sim 2%, e não teve mais sequestros. Totalmente diferente. A minha gestão trabalhou com um orçamento menor, praticamente a metade do atual. E ela não pagou nenhum precatório. Então não tem essa de dizer que eu deixei dívida.

No final da campanha houve acusação de que sua coligação enviou cartas com aumento de IPTU e fez boca de urna para incriminar a Antonieta. O que o sr. diz a respeito?
Acho que ela deve ter mania de perseguição, de passar uma imagem de fragilidade, de coitada, e não é nada disso. Ela sempre tem essa mania de se colocar na defensiva. Se ela disse que alguém da minha equipe fez, ela que prove.

Está tranquilo quanto a isso?
Nossa, com certeza absoluta. Não tenho nada a ver com isso, nunca agi dessa forma. Não sei nem se não foi ela mesma que fez isso para sair de vítima, porque é bem típico dela. Ela pediu reforço da Polícia Federal enquanto o povo está aí passando uma dificuldade tremenda na segurança. Minha casa foi assaltada na sexta-feira, antevéspera da eleição. 

O que aconteceu?
Foi pela manhã, por volta das 7 horas. Eu não quis falar disso porque graças a Deus não aconteceu nada. Não quis levar isso para um lado político, porque senão iam falar: o Farid está usando isso, é armação. Eu sempre me preocupo com isso, mas ela não. Ela tem a cara de pau de sempre se colocar de vítima. Que risco ela correu aqui? E se alguém a ameaçou, quem é? Por que ela não fala?

Então quanto às acusações o sr. está tranquilo e não há prova de que foi responsável?
Uma carta como aquela, que depois acabei vendo na internet, aquilo tem cara de carta oficial mesmo. Não sei se eles iam soltar isso depois da eleição e saiu antes. Vai ver deu errado, saiu antes da data, sei lá. Porque é uma carta com timbre da Prefeitura, pelo menos foi o que eu vi. Se é verdade ou não, sei que tem cara de carta oficial. Isso aí disseram que saiu no sábado, não é? Eu acho que eles fazem a coisa de caso pensado, para sair sempre de vítima. Outra coisa que aconteceu na reta final da eleição foi o boato da cassação da candidatura de Antonieta. Mas o que na verdade saiu foi um parecer da Procuradoria Regional Eleitoral favorável a uma ação da sua coligação contra a prefeita, não é? Uma grande sacanagem que eu acho é negar que tenha acontecido isso. É um fato, não foi invenção minha. É que embora tenha saído, é parecer, não foi a decisão... Só que comigo eles viviam falando o tempo inteiro que eu era inelegível e não sei o que mais. Nunca vi ninguém fazer um manifesto para dizer que não é verdade. Agora, com ela fizeram um manifesto dizendo que não tem pedido nenhum de cassação. Tem sim, ela vai ser cassada.

Por causa disso, o sr. inclusive citou o 3º turno. Está confiante nessa decisão?
Não gostaria que fosse assim, de verdade. Mas o que eles fizeram desequilibrou a eleição. Gastaram demais, usaram a máquina pública. Não é só aquela ação que existe, mas entramos com várias ações contra eles. Usaram o Diário Oficial para divulgar inaugurações, o que não pode. Usaram veículos de comunicação pagos para falar bem dela durante a campanha. Isso é vedado, não é legal. E se a lei existe, é para ser cumprida. Quando eu fui candidato em 2008,pergunta se teve alguma ação de abuso de máquina e de poder? Nenhuma. Porque eu não usei. E ela exagerou. Se a lei vale para mim, tem que valer para ela. Todos os jornais aqui da Cidade ficavam enaltecendo ela. Eles falaram que a Prefeitura não pagava esses jornais, e nós provamos. Tem um empenho da Prefeitura indicando quais os jornais que deveriam receber. Isso é uma ação fortíssima, também. Devemos ter umas 8 ou 10 ações. Ela chegou ao cúmulo de fazer o jornalzinho de campanha dela com timbre da Prefeitura. Foram vários, isso não é legal. O jogo foi desigual, porque ela usou a máquina. Não me venham dizer: ‘Ah! o Farid quer ganhar na Justiça’. Não, só vou cobrar o direito de igualdade que a Justiça prega.

Acha então que já saiu na campanha em desvantagem?
Lógico. Por exemplo: ela pegou algumas empresas terceirizadas e dizia que se ela perdesse a eleição eles iam perder o emprego, porque eu ia mandá-los embora. E temos isso gravado. Ela chama no comitê dela e ainda agradece um encarregado por ter convocado as pessoas a irem lá. Isso está errado. 

E vocês vão entrar com ação em relação a isso?
Já entramos, foram vários abusos. Ou existe Justiça ou não existe.

Então, na verdade a confiança não é em uma ação específica, mas em várias?
Exato. Se a lei é igual para todos, por que para ela tem que ser diferente?

Essas ações, então, podem culminar com a cassação?
Podem. Ela poderia ter feito uma disputa limpa, igual, mas não fez. Ela chegou a publicar, e pagar com dinheiro do povo, a notícia de que as contas dela foram aprovadas. Isso é de interesse público? Não é.

Várias pessoas disseram que se o sr. assumir no lugar dela também poderá ser cassado, já que tem algumas ações contra.
Mentira! Não tenho nenhuma condenação, nem em primeira instância. É uma baita de uma maldade o que fizeram comigo. Venderam isso e usaram a máquina da Prefeitura para ficar divulgando isso. Toda vez que ela tinha oportunidade na imprensa ela ficava falando que assumiu o Governo quebrado, o que é mentira. Ela teve muito mais visibilidade do que eu nesses quatro anos. E ela conseguiu formar uma opinião nas pessoas de que estava falando a verdade. Se ela tivesse competência, não precisaria ficar falando isso o tempo inteiro. Ela não venceu a eleição porque é uma ótima prefeita, venceu porque conseguiu conseguiu fazer as pessoas acreditarem que eu quebrei a Prefeitura, sumi com o dinheiro. Ganhou a eleição baseada nisso. O mote de campanha dela foi: diga não à corrupção,diga não ao mensalinho.

Então, na sua opinião não é que as pessoas tenham votado nela, é que votaram contra o sr.?
Isso mesmo. Ela montou uma imagem de séria, coitadinha. Mas eu já fiz essa declaração várias vezes: gostaria que ela provasse que pagou um produto na Prefeitura menos que o dobro do que era na minha época. Quanto ela pagou no quilo do feijão, no asfalto, no lixo, uniformes. Em tudo ela pagou mais caro. É um governo de faz-de-conta. Ela tem muito mais processos do que eu. Aliás, ela tem condenação em primeira instância.

Dessas ações que existem hoje contra o sr., não há nenhuma que possa culminar com a sua eventual saída da Prefeitura ou inelegibilidade?
Uma coisa é a inelegibilidade, a outra é se eu estivesse na Prefeitura e tivesse que sair. Inelegível eu não estou, senão não poderia ser candidato. 

Mas não existe nada que possa culminar nisso no futuro?
Imagina, não há nada. 

O sr. está confiante, mas e se não saírem essas decisões que espera. Como será sua postura? Vai seguir na política?
Vou sim. O meu partido vai ser oposição ferrenha na Câmara, coisa que eu não fiz no primeiro mandato. Os vereadores do meu partido vão ter que se posicionar. Mas não vou ser oposição irresponsável, não vou votar contra a população.

Como vê seu futuro político?
Essa eleição mostrou que só há duas forças políticas aqui. Dos outros candidatos, aliás, alguns fizeram parte do meu Governo e depois ficaram me atacando. Eles não têm vergonha na cara, são oportunistas. Político tem que ter coerência com o que fala e o que faz. E eles vão pagar um preço caro por isso, porque o povo percebe. Eles me bajulavam quando eu estava na Prefeitura, e agora na campanha também. Mas no segundo turno todos foram para lá achando que iam fazer a diferença. 

Quanto ao seu futuro político, então, o sr. acha que ele está atrelado mesmo a esta eleição?
Eu prefiro pensar no agora, no desenrolar dessas ações todas. Depois a gente fala mais de futuro.