ASSASSINO SOLTO, GATINHO PRESO?
GATINHO LAMBE O SANGUE DA VÍTIMA NO RESTAURANTE DA PRAIA DA ENSEADA, NO GUARUJÁ.
Gato confinado no restaurante na cena do crime alimentava-se do sangue da vítima, morta a facadas
Sergio Tomisaki/Diário de São Paulo
A Churrascaria e Pizzaria Casa Grande, na Praia da Enseada, Guarujá, onde o estudante de administração de empresas da PUC de Campinas Mario dos Santos Sampaio foi assassinado na noite do Réveillon pelo dono do estabelecimento, José Adão Pereira Passos, virou atração turística. Na tarde de quinta-feira, quase todos que passavam em frente ao número 1.835 da Avenida Dom Pedro I paravam para dar um espiadinha pelos vidros do restaurante. "Safado, sem-vergonha, é um absurdo o que ele fez. Tirar a vida de um jovem por causa de R$ 7", comentou o radialista J. Júnior, que há 19 anos mora na cidade e costumava comer com frequência no local.
Um dos motivos de tanta curiosidade também era um gatinho cinza, preso no restaurante, alimentando-se do sangue da vítima que ainda estava no chão, em meio a travessas com restos de alimentos. "O gato ficou trancado e o criminoso solto. Esse é o nosso país, essa é a nossa lei", lamentou a turista Maria Aparecida Maioli, inconformada. Ela disse que nunca havia comido no estabelecimento e, agora, não quer nem passar por perto. "Ninguém mais deveria colocar os pés ali. E se depender de mim, me proponho a assinar qualquer manifestação na internet para que isso aconteça", instigou.
José Adão, de 55 anos, e o filho, Diego Souza Passos, de 23, gerente do restaurante, apresentaram-se à polícia na noite de quarta-feira e foram ouvidos por cerca de quatro horas. O comerciante confessou o crime, mas alegou que sua intenção não era matar. Segundo ele, queria apenas defender o filho que estaria sendo agredido pelo estudante. "Procurei atingir uma parte com osso, só para dar uma furadinha para que soltasse o pescoço do Diego, que já estava perdendo os sentidos, mas acertei lugar errado", contou ao delegado Luiz Ricardo Lara Dias Júnior, da delegacia central do Guarujá. Ele também entregou o facão utilizado.
"As versões dos amigos do Mario estão conflitantes com as do comerciante e de seu filho. O inquérito deverá tirar essas dúvidas", explicou o Dias Júnior, que começou a ouvir os 15 funcionários do restaurante e depois pretende ir à Campinas conversar com as testemunhas que acompanhavam Mario. Segundo o delegado, Diego admitiu ter agredido o estudante e estava com a mão machucada. "Ela tinha hematoma e um corte. O pai também apresentava ferimentos no rosto e na boca", explicou, alegando que as informações dos dois se completam.
O produtor cultural Ricardo Guerra, que estava comendo no restaurante no dia do assassinato, nega que Mario tenha agredido Diego. "É tudo mentira. Ele não bateu em ninguém. A única coisa que fez foi reclamar do preço do prato, que estava sendo cobrado R$ 7 a mais do que o valor anunciado. Eu, no lugar dele, faria a mesma coisa", afirmou. Ainda segundo Ricardo, Diego saiu do restaurante, depois que o estudante pagou a conta, falando que ia esperá-lo lá fora. Mario, de acordo com seu amigos, teria ficado com medo de sair e ligado para a polícia.
"A vida tem muito mais valor do que os R$ 7 que motivaram toda essa tragédia. Não dá para entender uma coisa dessas", lamentou a aposentada Íris Bandeira, que já comeu algumas vezes no resurante, mas nunca conversou com José Adão.
O comerciante e seu filho foram liberados após o depoimento porque o prazo do flagrante já havia passado e, como se apresentaram, não cabia pedido de prisão temporária. "Mas nada impede que no final do inquérito a situação deles seja outra", disse o delegado.
Câmeras não estavam funcionando
O comerciante José Adão e o filho Diego inocentaram os garçons do estabelecimento de envolvimento no crime. "Eles se aproximaram apenas para tentar apartar", alegou.
As imagens do circuito interno de tevê que poderiam ajudar a esclarecer a participação de cada pessoa no caso não abriram. Segundo o delegado Luiz Ricardo Lara, há sete meses que o pagamento da manutenção do equipamento não era pago.
José Adão contou que Mario estava apertando o pescoço do seu filho e o rapaz chegou a perder os sentidos . Por isso pegou a primeira faca que viu. Ainda segundo disse, ele apenas bateu no ombro do estudante com a faca na horizontal, mas como não adiantou, porque não soltava o filho, o esfaqueou. De acordo com a versão dele, houve apenas um golpe.
"O Diego confirmou e disse que, quando acordou, Mario já estava caído no chão e seu pai com o facão na mão", explicou o delegado. Segundo ele, ao ver a cena, o rapaz disse ter pegado o pai e saído do local às pressas. Diego foi de moto e escondeu-se na casa da mãe. Já o pai, que estava de carro, ficou na casa de outro filho. "O advogado deles (Valdemir Santana) me ligou às 18h perguntando se poderia apresentá-los. Se não tivessem vindo a prisão temporária seria pedida."
Segundo o comerciante, tanto na véspera de Natal quanto no Réveillon o preço do prato subiu de R$ 12,99 para R$ 19.99 após as 18h e o estudante não entendeu. Mesmo assim, alegou que o deixou pagar o valor anunciado
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