ESTUDO APONTA QUE
GUARUJÁ DEIXA DE ARRECADAR MILHÕES EM IMPOSTOS.
CERNE DO PREJUÍZO ESTÁ DIRETAMENTE LIGADO AO FATO DO PORTO
DE GUARUJÁ (MARGEM ESQUERDA) NÃO EXISTIR JURIDICAMENTE; DE ACORDO COM VEREADOR,
NÃO É POSSÍVEL MENSURAR PERDA TRIBUTÁRIA.
Cerne do prejuízo está diretamente ligado ao fato do Porto de Guarujá (Margem Esquerda) não existir juridicamente; de acordo com vereadores, não é possível mensurar perda tributária
Conhecido como margem esquerda do Complexo Portuário Santista, o Porto do Guarujá não existe juridicamente. O que isso representa? De acordo com o estudo Porto de Guarujá – Uma Questão de Natureza Legal, elaborado pela consultoria R. Amaral & Associados, isso faz - entre outras consequências - que Guarujá perca tributos para Santos.
O estudo foi contratado pela comissão especial da Câmara de Guarujá que trata da emancipação portuária do município. Um projeto de lei que tramita pela Câmara para criar o Porto de Guarujá, a comissão encomendou o estudo (entregue no dia 8 de outubro) para servir como base técnica para viabilizar a independência do cais.
"A criação do Porto será o ponto de partida para controlar melhor os tributos, além de exigir nossos direitos, como um CNPJ próprio, a independência contábil de nosso Porto, uma filial da Codesp, um posto da alfândega e a competição justa entre os terminais situados na área do Porto Organizado".
De acordo com o vereador, é impossível ter a dimensão exata do quanto Guarujá já perdeu em tributos. "O que se sabe é que a fuga de receita é milionária", diz. O estudo aponta, por exemplo, que entre 1988 e 1997, o Terminal de Contêineres de Guarujá movimentou 38,15% do total de cargas do Porto de Santos, considerando o ISSQN e a taxa estimada para fins de armazenagem, é possível afirmar uma perda de pelo menos R$ 120 milhões aos cofres municipais.
O levantamento, realizado com dados históricos e atuais, conclui que a oficialização do Porto de Guarujá, desvinculando-o do Porto de Santos, é um direito assegurado pela Constituição Federal de 1988 e a partir de agora um dever da prefeitura.
De acordo com o jornalista e especialista em finanças públicas, Rodolfo Amaral, autor do estudo, esta é uma questão histórica que já deveria ter acontecido há muitos anos, ainda na década de 70 ou pelo menos em 1997 quando a Santos Brasil se consolidou em Guarujá, vencendo a licitação do Tecom, passando a recolher ISS para o município e institucionalizando o Porto. "Meu desejo é que a partir de agora a divisão de direitos e responsabilidades entre os portos de Santos e Guarujá, além do de Cubatão, aconteça de forma justa", explica Rodolfo.
Outro embate atualmente é como o processo de emancipação de Vicente de Carvalho irá influenciar neste processo. Afinal, tornando-se município, os tributos das áreas portuárias em Vicente de Carvalho passam a ser da nova cidade e não mais de Guarujá. "Isto está implicando principalmente na área de retroporto", explica Amaral.
Histórico
O Decreto 406, de 1968, estabelecia o contribuinte como o prestador de serviço, tendo como parâmetro o local de sua sede. Neste sentido, os impostos não iam para a cidade onde era realizada o serviço.
"Quando surgiu a Codesp, o Porto passou a ser estatal. No ato começaram as falhas jurídicas. Neste momento já deveriam ter sido criadas as filiais", explica Amaral. No início, a Codesp era operadora, fazia o transporte e realizava a armazenagem. "Enfim, como era a única operadora portuária, todos os impostos dos serviços movimentados no porto do lado de Guarujá vinham para Santos".
Em 1987, a Lei Complementar nº 56, já apresentou condições mais claras para lançar o ISSQN sobre os serviços portuários. Entretanto, não alterou os critérios de tributação baseados do Decreto. Na década de 90, houve a Lei de Modernização dos Portos. A principal mudança é que a Codesp deixou de ser operadora dando lugar para várias empresas que, por arrendamento, ocuparam os espaços públicos.
"A partir de 2003, surgiu a Lei complementar n°º 116, tratando do ISS, que veio com absoluta clareza. O ISS será cobrado no efetivo local de prestação de serviço e o Porto está nesta situação. Serviço prestado na margem esquerda vai para o Guarujá", esclarece Rodolfo.
Na atividade portuária, porém, a questão tributária é complexa. "Primeiro há o prático, depois os rebocadores, serviço de capatazia, depois os operadores da carga. Além das cargas que vêm de caminhão. Tudo isso acontece numa velocidade incrível de operação portuária. A fiscalização é difícil, por isso há uma evasão de impostos", explica.
Santos
Para o secretário de Assuntos Portuários e Marítimos de Santos, José Eduardo Lopes, se realmente ocorrer a mudança irá apenas atrapalhar o processo do complexo portuário. "Se existe um problema de tributos, o ideal seria que a Codesp resolvesse sem que fosse criado o Porto (de Guarujá), complicando o processo que acontece nas duas margens", explica.
Procurada pela Reportagem, a Codesp declarou que não se pronunciaria sobre o processo de emancipação do Porto do Guarujá e sobre a abertura de uma possível filial.
Guerra Fiscal
Além de todo o histórico, a Lei dos Portos criará uma nova disputa, que implicará também sobre os tributos municipais. "Todos discutem a questão dos trabalhadores avulsos, mas se esqueceram que com as novas regras a Embraport (localizada na área continental de Santos) será a principal beneficiária", explica.
Para Amaral, com os novos terminais já era esperada uma migração natural dos contêineres. No ano passado, 54% da movimentação do complexo portuário foi realizado pela Santos Brasil, em Guarujá, mas isso mudará. Porém, com a Lei dos Portos em vigor, a Embraport passará a realizar as operações portuárias com trabalhadores com vínculo empregatício próprio, sem a obrigação de contratar a mão de obra via Ogmo (motivo das manifestações de estivadores realizadas nas últimas semanas).
Isso fará com que se crie uma disputa mais acirrada e até injusta entre os terminais dentro do Porto Organizado. Movimentação que refletirá nos impostos. "A THC, que é a taxa de movimentação de contêiner, tem um custo atual, em média, de R$ 800. Com a possibilidade de contratar um trabalhador com um salário menor do que é hoje pago a um estivador, a tendência é ter um custo menor. A empresa conseguirá diminuir a THC por R$ 650, por exemplo, valor a ser repassado para as empresas. O exportador ou importador vai contratar quem?", indaga Amaral.
"Se cada contêiner gera em média, apenas de ISS, R$24 ao município, se pensarmos numa evasão de 200 mil contêineres, Guarujá deixará de arrecadar cerca de R$ 5 milhões", explica o consultor.
Porto Sem Papel
Um ponto que os dois municípios concordam é a inclusão das prefeituras no programa Porto Sem Papel, da Codesp, que proporcionaria às prefeituras uma forma mais eficaz de controlar a movimentação e cobrança dos tributos."As prefeituras não estão inseridas. A inclusão delas no acesso dos dados é essencial para que tenham maior controle. Pelo programa, consegue-se ver a origem do navio, a quantidade de cargas, o terminal que ficará, se o contêiner irá direto para o destino ou o tempo de armazenagem", enfatiza.
De acordo com o secretário Lopes, esta é uma reivindicação da prefeitura de Santos. "Acredito que em um futuro próximo teremos esta alternativa que muito contribuirá para termos controle de todas as operações", ressalta.
Fonte: Jornal Boqnews

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