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Passados 120 dias da onda de violência na Baixada que deixou 23 mortos, crimes caíram no esquecimento
TAHIANE STOCHERO - DIÁRIO DE SÃO PAULO 15/08/10
Dizem que o tempo é sempre o melhor remédio. Passados 120 dias da onda de violência na Baixada Santista, que em abril, durante uma semana, deixou 23 mortos, ninguém mais lembra do que aconteceu. Todos os 17 policiais militares que haviam sido presos sob suspeita de participação em dez mortes no Guarujá estão livres e usando farda, trabalhando, agora, nas ruas da capital paulista, para onde foram transferidos.
A liberdade ocorre porque, passados três meses, a polícia diz ainda não ter provas da efetiva participação dos PMs nos assassinatos, cujo estopim foi a morte do soldado Paulo Raphael Ferreira Pires, de 27 anos, com dez tiros de fuzil.
Atualmente, nas ruas do Guarujá, a população comemora o sossego. Os índices criminais caíram drasticamente após a PM fazer uma operação com a Tropa de Choque, que terminou no início de agosto. Entre 10 de maio e 15 de julho deste ano, em comparação com o mesmo período de 2009, os furtos caíram 60% e os roubos, 54%, segundo dados da corporação. "Não há mágica. Tudo foi feito com integração com a comunidade", diz o comandante da PM na cidade, tenente-coronel Marcelo Afonso Prado.
"Depois que a Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar) veio para cá, a situação melhorou. Toda a minha família já havia sido assaltada. E, depois das mortes, tínhamos medo", desabafa a professora Dalva Rosa dos Santos, de 55 anos. Ela faz coro com o Oswaldo Portes, presidente do Conselho Comunitário de Segurança (Conseg) de Vicente de Carvalho, bairro na periferia do Guarujá onde ocorreu a maior parte dos crimes. "Agora está tudo calmo. Antes, faltava policial, viatura, vivíamos sob terror", afirma.
A operação da PM prendeu mais de cem pessoas em 30 dias. Mas a repressão contra bandidos, motivada por crimes cometidos por policiais, não foi pacífica. Três suspeitos foram mortos em confronto com a Rota e outros dois, pelos Comandos e Operações Especiais, numa invasão pelo mar da Favela Prainha. No revide, traficantes incendiaram um ônibus, assustando a população.
Investigação não conseguiu provas contra PMs acusados
As investigações da Polícia Civil e da PM apontam que não há nenhuma organização - ou grupo de extermínio - ligada à onda de assassinatos ocorrida na Baixada Santista entre 18 e 22 de abril, quando houve 23 mortes no Guarujá, Santos, São Vicente e Cubatão.
O estopim foi a morte do soldado da Força Tática Paulo Raphael Ferreira Pires a tiros de fuzil em Vicente de Carvalho, na periferia do Guarujá. Antes do crime, o PM estava em um bar e recebeu uma ligação de um suposto líder do tráfico na região, ameaçando-o. Conforme testemunhas, teria falado ao celular: "Duvido que me matem, não tenho medo não". Ao deixar o bar, foi fuzilado.
O soldado investigava o desaparecimento do irmão de outro PM, seu amigo, que mora no Guarujá e trabalha em Santo André, no ABC. O irmão do PM teria sido linchado pela população de Prainha, favela de Vicente de Carvalho, a mando de uma facção criminosa que atua na região, por ser acusado de pedofilia. Até hoje, o corpo não apareceu.
Depoimentos apontam que vários PMs da Baixada reuniram-se em frente ao Pronto Socorro de Vicente de Carvalho, onde estava o corpo de Pires, após o assassinato. Houve comoção e revolta e eles teriam decidido se vingar. A polícia acredita que não houve ordem e não havia vítimas previamente determinadas. "Os PMs saíram matando quem viam pela frente", disse uma pessoa que participa da investigação.
Cinco PMs do Guarujá foram identificados por um comparsa, um vigilante, pela autoria de quatro mortes. Mas o depoimento do vigia é contraditório em muitos pontos e, por falta de provas, a Justiça libertou todos os policiais.
Apenas o soldado Dirceu de Lima Júnior, que agora trabalha em Santos, foi indiciado. O irmão do soldado assassinado, o também PM Paulo Rodrigo Ferreira Pires, apontado como o incitador da revanche, está livre, trabalhando na PM em Heliópolis, na Zona Sul da capital. O DIÁRIO não localizou os advogados dos acusados.
Entrevista Marcelo Prado - Comandante da PM no Guarujá
DIÁRIO - A prisão de PMs por assassinatos interferiu no relacionamento da polícia com a comunidade?
Não. Até melhoramos este trabalho com ações de cidadania, como atendimentos médicos gratuitos, e uma parceria com a prefeitura contra a favelização, pois os bolsões de pobreza próximos a áreas ricas são um problema antigo.
E os outros PMs não se sentiram perseguidos com a presença da corregedoria aqui?
Não. Foi um caso isolado, que está sendo investigado pela Polícia Civil e pela corporação. Trabalhamos de forma legalista, técnica e equilibrada.
Qual a situação da criminalidade hoje na cidade?
Estamos com os índices em queda, graças à operação das duas polícias e ao trabalho técnico de inteligência, Com os esforços da comunidade e dos PMs, fizemos mais de 22,2 mil abordagens em um mês e apreendemos 21 armas, inclusive um fuzil AR-15.
A população reclamava da falta de policiamento. O que mudou deste então?
Houve aumento do efetivo do 21º Batalhão da PM do interior, responsável por Guarujá, Cubatão e Bertioga. Hoje são mais de mil policiais e teremos em breve o batalhão em nova sede, em um prédio na Enseada.
Qual é a sua maior preocupação hoje?
Com a desordem social e urbana do Guarujá. Temos mais de 60 favelas, muitas vezes de difícil acesso. A prefeitura está com investimentos nesta área social e há uma força-tarefa, envolvendo a população, Ministério Público e polícias, para evitar que o crime ocorra. ocorra.